Os Fantasmas de Eckemberger
Na programação de sua segunda etapa, o Arte Sofitel e a Prova do Artista Galeria de Arte, entre 2 de setembro e 4 de novembro, apresentam a exposição do artista plástico Eckemberger, argentino radicado na Bahia depois de perambular pela Europa. Desde os anos 60 do século passado seu trabalho vem se desenvolvendo dentro uma proposta artística nos limites do expressionismo, ironizando instantes do destino humano.
Figuras que saíram da tela para a tridimensionalidade. Quem olha também sonha, gosta de imaginar. Aqui o olho quer lembrar o feio, o rústico, o ridículo. Ironia. Eckemberger cria um cenário com fantasmas e fantasias para descobrir o corpo e suas apresentações. Mais do que uma negação de uma ideologia de beleza é uma forma de intervenção no real, sem se prender nas banalidades das representações. Numa sociedade que solicita e aceita passivamente o novo como sinônimo de bom, eficiente, indiscutível e o velho é considerado ultrapassado, suspeito, imperfeito, o culto ao feio, a dessacralização do estético, só podem ser vistos como cenas de um sacrifício. E "o sacrifício é feito de uma mistura da angústia e frenesi", (Georges Bataille). Há certo incomodo nestas figuras, pertencem à ordem do indesejado, são criaturas desajustadas com relação ao progresso tecnológico do mundo em que vivemos.
A habilidade do artista dispensa os requintes tecnológicos e chama a atenção para o fato de não confundir qualidade com suporte tecnológico. Aliás, o estar em dia com a tecnologia de última geração, não qualifica a atualidade da arte. Eckemberger partiu para o tridimensional, sem levar em conta de propósito os novos suportes, recupera o artesanal de construir bonecos de pano, sem o conforto de uma rotina, superando até determinadas instalações que mais parecem casinhas de bonecas. Fazer arte é persistir em determinados procedimentos, é o que nos ensina o percurso do artista. Existe uma linha de trabalho (esta é a palavra correta, trabalho) desde o começo de sua carreira até os dias de hoje, que dá um toque de seriedade na teatralidade e no humor de suas figuras.
Figuras deformadas, sarcásticas... A comédia do cotidiano com sua hipocrisia e os falsos valores. Um teatro de bonecos colocando em cena as possibilidades da arte no mundo contemporâneo. O que motivou a tridimensionalidade foi trabalhar a expressividade da figura. O artista tem como tarefa enriquecer as faces do mundo, mostrando o invisível, neste caso, as contradições dos personagens que vivem e consomem o urbano. O resultado é instigante. Carregadas de intencionalidades estas imagens são dramáticas e inquietantes, nelas podemos ver as rugas que não escondem a passagem cinematográfica do tempo, transformando o visível.
Um tema aparentemente óbvio como o tempo que devora solenemente as riquezas e as belezas. Mas estas caricaturas "franciscanamente" construídas quando passam a habitar um mundo marcado pela repetição mecânica, levantam dúvidas, interrogações. O perverso olhar do artista descortina a intimidade e o social. A arte é mais do que aquilo que a imagem representa.
Almandrade
(artista plástico, poeta e arquiteto)
