ENCÁUSTICA
Este pequeno texto é dedicado ao Prof. João José Rescala
"Muitas pessoas me perguntam o que é a encáustica. Eu vou tentar explicar. A encáustica é uma técnica de pintura muito antiga - vem dos gregos e dos romanos. É uma técnica que tem algumas vantagens sobre as outras porque absorve a luz e não a reflete. Outra qualidade é que dura muito. Eu vi algumas pinturas em encáustica na itália, em Pompei, e ainda estão muito boas. É uma técnica que se chama, em grego, 'Kaustikh', que é calor, quer dizer quente. E vamos ver que empregamos muito o calor nesta técnica.
A encáustica é muito resistente a índices mais altos ou mais baixos de temperaturas. Devido a isso e à sua maleabilidade, é muito difícil aparecerem rachaduras na superfície da pintura. A encáustica fica mais resistente à proporção em que fica mais velha.
Existem dois tipos de encáustica: uma quente e outra fria. Eu faço fria e depois esquento. Porque a encáustica puramente quente é outra técnica que eu não uso. Eu pinto à encáustica desde 56, 57, 58 e em 59 ainda usei. Depois larguei e recomecei, nesta nova fase, dos ex-votos, em 80, porque eu pinto ex-votos desde 56, 57. Então, de 80 para cá, eu nunca mais deixei de pintar à encáustica - só pinto à encáustica. Acho que ela é muito boa. Se adapta muito ao trabalho que eu quero fazer. Agora isso é uma conversa, uma coisa teórica para dizer o que é. Mas eu gostaria de mostrar como é que se faz a encáustica praticamente.
Para iniciar a encáustica, nós necessitamos de um verniz. Este verniz é feito de uma resina, e esta resina vem da Índia - chama-se resina de Damar (é a melhor que tem). Para se fazer este verniz, nós precisamos do seguinte: um frasco de boca larga, um pano e um cordão. Então nós fazemos uma boneca. Preparamos a boneca com a resina dentro, a amarramos com o cordão, colocamos na terebentina e deixamos flutuando - ela não pode pegar, não pode ficar no fundo, tem que ficar flutuando. Aí a resina vai derretendo aos poucos; quando estiver toda derretida, ela passa do estado sólido para o líquido, e aí nós temos o verniz de Damar.
Segunda etapa: nós pegamos cera de abelha italiana, cortamos em pedaços e colocamos em banho-maria. Quando a cera estiver derretida, nós a colocamos em um frasco e adicionamos um pouco do verniz - está pronta a encáustica: é uma massa. Nós colocamos esta massa na paleta, misturamos com o pigmento e aí transportamos para a tela. Esta é a encáustica fria. Quando misturo o pigmento e ponho na tela, faço o quadro em encáustica fria; mas eu esquento e transformo em encáustica quente, usando um aquecedor de sopro industrial. Liga-se o aparelho e, à proporção em que nós vamos esquentando, dá-se a transformação. Colocamos várias camadas de tinta, uma em cima da outra, esquenta-se tudo, e deixando derreter; com o auxílio de uma espátula, mistura-se um pigmento ao outro e surge daí uma matéria fantástica.
Para a outra técnica de que eu falei, que é a quente, precisa-se de uns tubos de papelão. Aí prepara-se o verniz de Damar com a terebentina de Veneza, que é mais encorpada, e mistura-se com a cera de abelhas italianas, já derretida em banho-maria, acrescenta-se o pigmento, mistura-se e coloca-se esta pasta, ainda quente e líquida, nos tubinhos de papelão. Ao endurecer tem-se, como resultado, um espécie de lápis de cera.
Necessitamos, para trabalhar, de uma palheta de metal eletrificada ou de um ferro de soldar cuja ponta tenha sido amassada, tornando-se, assim, uma espátula. Aí, é só derreter os bastões, cada um de uma cor, e aplicar no suporte.
Então, temos dois tipos de encáustica: a quente e a fria. Eu faço fria e depois esquento - é uma prática que fui aprendendo com o tempo. Faço com muita desenvoltura, muito rapidamente, porque ele esfria muito depressa."
(SCALDAFERRI, 2000)
