Pablo Picasso

Pablo Ruiz y Picasso nasceu em Málaga, Espanha, em 1881. Iniciou seus estudos de pintura com seu pai, mestre em desenho e em 1895 foi estudar na Escola de Arte de Barcelona. Em 1897 foi para a Academia de Madri e em 1900 conheceu Paris, mudando-se para lá três anos mais tarde.

Entre 1917 e 1924, Picasso desenhou trajes e decorou vários ballets. Se interessou pelo Surrealismo no ano de 1925, mas nunca chegou a se tornar um membro oficial.

Depois da II Grande Guerra, mudou-se para o sul da França. Enquanto morava na Espanha, sua pintura seguiu a tradição acadêmica. Depois de 1900 foi influenciado pela arte de Lautrec e do desenvolvimento artístico que atingiu a Europa. Seus trabalhos refletiram essas influências assim como uma maior consciência social.

Picasso não demonstrava o verdadeiro significado dos seus quadros. Durante 1901 e 1904, em seus trabalhos havia a predominância de tons azuis, o que lhe rendeu o nome de "período azul".

Em 1905, Picasso mudou um pouco o seu estilo, seus traços se tornaram menos grosseiros e menos melancólicos. Seu principal tema se tornou o circo e o azul foi substituído pelo rosa como podemos ver em "Família de Saltimbancos".

Durante o inverno de 1906-07, interessado na Escultura Negra Primitiva, Iberiana e outros estilos, provocaram uma nova mudança. Vemos esta transformação em "Les Demoiselles D'Avignon". Essa nova fase não foi conhecida pelo público até 1927, e mesmo depois de conhecida, não foi compreendida. Picasso começou a simplificar sua forma, conduziu o conceito melhor do que a imagem visual. As figuras forma simplificadas para uma série de planos e ângulos, a representação do espaço se tornou virtualmente desprezada.

Esses foram os estilos e influências que prepararam Picasso para desenvolver o Cubismo. De 1909 até o início da I Grande Guerra, Picasso e Braque trabalharam juntos no desenvolvimento dessa nova pintura.

Nos trabalhos mais recentes, no Cubismo, Picasso foi muito influenciado por Cézzane, ele tomava os objetos naturais como seu ponto de partida, mas analisava e reconstruía em elementos de formas simples que se adequassem melhor a face da figura. As cores forma suavizadas para um tom monocromático, abandonando a ênfase na estrutura.

Nos próximos dois anos, seus arranjos se tornaram complexos e difíceis de compreender, as imagens se tornaram cada vez menores, as relações entre elas e o fundo da tela se tornaram confusas.

Durante a I Guerra, trabalhou sozinho, desenvolvendo o Cubismo, dando mais qualidades decorativas. Usava espaços padrão, cores mais brilhantes e figuras com curvas mais soltas. Da mesma forma que retornou ao estilo mais natural, o quadro "Retrato de Ambroise Vollard", 1915, mostrava sua nova admiração pelo oculto.

Em 1917, foi para Roma e começou a pintar figuras monumentais, calmas, com uma característica clássica. Em "Camponês Dormindo", 1919, ou "Mãe e Filho", 1921, o tema clássico e as figuras do Centauro e Faunos entraram em seu repertório. A partir de então, a figura se tornou o principal tema.

Em meados de 1920, Picasso se aproximou do Surrealismo. As formas apresentavam características metamorficas e emocionalmente distorcidas mais do que razões formais, como em "Os Três Dançarinos", 1928. A pintura de Picasso não mudou muito desde então, sua imaginação fértil não o permitiu repetir muitas idéias. Uma vez comentou, "as várias maneiras que usei em minha arte não devem ser consideradas como uma evolução mas como variações".

Depois de uma série de figuras femininas, em 1932, utilizando curvas sensuais, Picasso parou de pintar temporariamente. Entre 1935 e 1937 trabalhou em projetos gráficos e em poesias Surrealistas.


PABLO PICASSO (1881 - 1973)

Gustave Courbet

Nasceu em Ornans, França, em 10 de junho de 1819. Sofreu grandes influências do seu avô, que detinha um forte sentimento republicano. Não gostava de livros e seu único interesse estava no desenho e na pintura.

A partir de 1844, fez exposições constantes no salão de Paris. Os críticos reagiram a seu favor e seu nome tornou-se público. Suas obras foram bastante influenciadas pelos pintores franceses, espanhóis e alemães da época do realismo no século XVII.

Courbet ficou impressionado com a repressão que se seguiu no ano de 1848, revolução que forçou o rei Luis Felipe a abdicar do trono. Acabou se envolvendo com ideais políticos influenciado por Pierre Joseph, escritor socialista.

Neste período, acabou transmitindo a sua vida em alguns quadros, como "Depois do jantar em Ornans" ou "O funeral em Ornans", pintando-os quase do tamanho real.

Em 1854, apreciou os quadros de Alfred Bruyas. A partir daí, suas pinturas se tornaram mais brilhantes e luminosas.

Seus últimos anos de vida foram bastante conturbados. Durante a Comuna de Paris, foi nomeado presidente do comitê para preservar obras de arte. Foi preso ao se envolver na destruição da coluna de Napoleão em Vendôme. Depois de ter que reconstruir o que destruiu, foi para Suíça, onde morreu em 1877, próximo de Vevey. Foi considerado pai não só do impressionismo, como também do cubismo na era moderna.


GUSTAVE COURBET (1819-1877)

Impressionismo

O movimento artístico mais importante do século XIX. Representou o fim do Realismo na França e serviu como uma transição para a Arte Moderna.

O impressionismo surgiu da busca de querer pintar as coisas como realmente as vemos e de demonstrar os efeitos da luz nas cores dos objetos.

Os precursores desse estilo foram: Constable; Delacroix; Courbet; Boundin; Jongkind e Manet. O estudo das cores de Delacroix e o livro de Eugene Chevreul, que se baseava na aplicação das cores da teoria de Newton, inspiraram os outros pintores e os estimularam na investigação das propriedades da sombra e da luz incidindo na água.

Esses artistas tentaram provar que não existe cor imutável. Para alcançar os efeitos do brilho da luz, utilizaram fortes traços de pura cor, deixaram de usar as cores preta e marrom e desenhavam os objetos de forma vaga. Essa liberdade com que definiam as formas, lhes renderam oposições e críticas por parte do público.

Em 1874, Monet, Pissaro, Sisley, Renoir, Cézanne, Degas, Morisot e outros, fizeram uma primeira apresentação em grupo. O nome impressionismo, usado pelos críticos, foi dado devido a um quadro de Monet chamado de "Impressão: nascer do sol".

Os escultores dessa época não tiveram a mesma repercussão que os pintores, já que os efeitos dos quadros impressionavam muito mais.

O mais importante escultor foi Auguste Rodin. Sofrendo fortes influências de Barye, ele redefiniu a escultura, produzindo formas e efeitos no bronze que a depender da posição do observador, o reflexo da luz e a impressão visual se modificavam.

Arte Egípcia

A arte Egípcia surgiu a mais de 3000 anos A.C., mas é entre 1560 e 1309 A.C. que a pintura Egípcia se destaca em procurar refletir os movimentos dos corpos e por apresentar preocupação com a delicadeza das formas.

O local a ser trabalhado primeiramente recebia um revestimento de gesso branco e em seguida se aplicava a tinta sobre gesso. Essa tinta era uma espécie de cola produzida com cores minerais.

Os egípcios ao esculpir e pintar tinham o propósito de relatar os acontecimentos de sua época, as histórias dos Faraós, deuses e do seu povo em menor escala, já que as pessoas não podiam ser representadas ao lado de deuses e nem dentro de templos. Provavelmente eles não tiveram a intenção de nos deixar a "arte" de seus criadores.

O tamanho das pessoas e objetos não caracterizavam necessariamente a distância um do outro e sim a importância do objeto, o poder e o nível social.

Os valores dos egípcios eram eternos e estáveis. Suas leis perduraram cerca de 6.000 anos. O Faraó representava os homens junto aos deuses e os deuses junto aos homens, assim como era responsável pelo bem-estar do povo, sendo considerado também como um próprio Deus.

Arte Rupestre

Desde que o homem passou a conviver em sociedade, criou formas de se expressar e a arte foi sem dúvida a primeira delas vindo inclusive antes da linguagem.

O conhecimento sobre estas pinturas relatam desde 1575 onde François de Belleforest publicou sua observação de desenhos na gruta de Rouffignac. Estes desenhos eram atribuídos a camponeses, pastores e até mesmo fruto de manobras jesuítas.

O primeiro a estabelecer relação entre as gravuras e os achados arqueológicos foi Marcelino Sanz de Sautuola que em 1879 procurava peças pré-históricas juntamente com Maria, sua filha de oito anos, que foi a responsável pelo descobrimento na gruta de Altamira, situada no município cântabro de Santillana del Mar.

Marcelino morreu desacreditado e somente após vários achados feitos por outros cientistas, principalmente em território Francês, passaram a dar valor a sua teoria.

As gravuras parecem estar associadas a significados místicos e crenças mágicas, este pensamento se reforça quando as pinturas são encontradas em covas profundas de difícil acesso e sem restos de habitação por perto, o que vem a indicar seu uso na decoração de um santuário. Eram usadas também como uma forma de determinar a propriedade.

Alguns desenhos tem técnica "avançadas" de pintura dando estilo de profundidade, movimento e policromia. Utilizavam-se dos dedos untados com argila, responsável pelas cores ocre e vermelho, carvão ou óxido de manganês (retirado das rochas) responsáveis pelas cores negras. Como aglutinante era usado gordura ou sangue de animais.

O homem pré-histórico também se dedicava a escultura, pequenas peças feitas de chifre, ossos e pedra possuem tamanha mestria que são difíceis de reproduzir até hoje. Para esculpir eram usados instrumentos de sílex, uma espécie de perdeneira usada para fazer fogo.

Na Bahia mais especificamente no município de Seabra, encontram-se algumas cavernas como a Santa Marta e Buraco do Cão onde se pode ver pinturas rupestres feitas por homens primitivos que viveram há no mínimo 11 mil anos atrás.

O Brasil possui ainda outros sítios de pinturas rupestres, situados em Minas Gerais e no sudeste do Piauí onde consegue-se distinguir duas vertentes de pintura, uma naturalista e outra geométrica.

Livro retrata personagens pitorescos da Baixa dos Sapateiros

Personagens marcantes de uma das áreas comerciais mais conhecidas de Salvador, que viveram o auge da fama e popularidade entre os anos de 1970 e 1990, estão retratados no livro Na Baixa dos Sapateiros (Editora Expoart, 88 páginas), de Leopoldo Bokor, que será lançado no dia 16 de dezembro (sábado), às 10 horas, na Biblioteca Goethe-Institut – Instituto Cultural Brasil-Alemanha. A publicação reúne episódios inusitados, casos engraçados e fatos curiosos de pessoas como o lavador e guardador de carros Alemão, que só trabalhava fardado e tinha orgulho da sua "fórmula secreta" para lustrar os automóveis; o comerciante Oliveira, que se gabava de burlar o fisco enquanto seu sócio não cansava de tentar conquistar as clientes; a excêntrica travesti Rogéria, que ganhou o apelido em alusão à famosa atriz e travesti carioca; e a misteriosa Mulher de Roxo, que virou tema de inúmeras reportagens e documentários e até serviu de inspiração para personagem de filme. No total o livro traz dezenas de perfis e casos que marcaram época e se misturam à história da própria Baixa dos Sapateiros, que durante décadas teve vida própria e era vibrante e divertida junto com suas figuras pitorescas. Na Baixa dos Sapateiros tem patrocínio da RedeMix, através do Programa Estadual de Incentivo à Cultura – Fazcultura, do Governo do Estado da Bahia e pode ser acessado online pelo site adoroler.com.br.

O testemunho de tantas histórias e com tamanha riqueza de detalhes vem do próprio autor do livro, que durante quatro décadas frequentou diariamente a Baixa dos Sapateiros, onde trabalhou no ramo de móveis e colchões, e conviveu com os personagens. "A ideia de escrever sobre a 'Baixa', como a rua era carinhosamente chamada, surgiu do saudosismo que eu sentia daquela época de efervescência da região e da vontade de fazer com que outras gerações conheçam essas histórias. À medida que eu redigia, sentia cada vez mais a necessidade de destacar os personagens, de colocar no papel essas pessoas, ao mesmo tempo tão simples e tão complexas", comenta Leopoldo Bokor, ressaltando que muitas das histórias até hoje são cercadas de mistério e misturam relatos reais com possíveis boatos.

A publicação reúne fotografias e ilustrações dos artistas plásticos Antonello L'Abbate, César Romero, Chico Liberato, Chico Mazzoni e Sante Scaldaferri e traz um panorama da Baixa dos Sapateiros, oficialmente intitulada de Rua Dr. J. J. Seabra, local que abrigou o primeiro cine teatro de Salvador, o Jandaia; onde foram também colocados os primeiros trilhos de bonde e foi a primeira rua de "comércio" da dita Cidade Alta - embora a rua se estenda em um plano intermediário entre a Cidade Baixa (o Comércio) e a Cidade Alta (Rua Chile, Avenida Sete, etc). Depois de anos de efervescência comercial, com suas variadas lojas de confecções, tecidos, mobiliarias, bares, loja de ferragens e de louças, entre outras, a Baixa dos Sapateiros viveu sua decadência, a partir do final da década de 1990, provocada principalmente pelo crescimento do comércio popular na Avenida Sete, aliado ao surgimento dos shoppings e das grandes redes de lojas.

Serviço

Lançamento do livro Na Baixa dos Sapateiros
Autor: Leopoldo Bokor
Ilustrações: Antonello L'Abbate, César Romero, Chico Liberato, Chico Mazzoni e Sante Scaldaferri
Data: 16 de dezembro de 2017, das 10h às 12h
Local: Biblioteca Goethe-Institut – Instituto Cultural Brasil – Alemanha (Av. Sete de Setembro, 1809, Vitória)
Informações: (71) 99972-7474
Patrocínio: O projeto tem patrocínio da RedeMix e do Governo do Estado, através do Fazcultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

O livro pode ser acessado online pelo site adoroler.com.br.

Livro editado pela Expoart, com patrocínio da Frutosdias, sobre os 50 anos de vida artística de César Romero recebe Prêmio da ABCA

50 anos de vida artística de César Romero

O livro A Brasilidade na Pintura de César Romero (Editora Expoart, 304 páginas), da filósofa e crítica de arte Mirian de Carvalho, acaba de receber o Prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) 2016. Resultado de um profundo trabalho de pesquisa que durou cinco anos, A Brasilidade (...) aborda o universo contemporâneo brasileiro presente na pintura e na arte de César Romero, apresentando a variedade técnica e criativa com que o artista baiano transcorre sobre o Nordeste do país. A publicação foi lançada em novembro passado, no Museu de Arte da Bahia (MAB), dentro das comemorações pelos 50 anos de carreira do artista plástico, fotógrafo e crítico de arte. O livro - editado na Bahia com o apoio do Fazcultura e patrocínio da rede baiana Frutosdias - pode ser lido na íntegra no site www.cesarromero.art.br.

Livro A Brasilidade na Pintura de César Romero

O prêmio anual da ABCA destaca críticos, artistas, pesquisadores, curadores e personalidades que apoiam as artes, além de exposições, publicações e instituições atuantes no cenário nacional das artes visuais. A premiação batizada de Prêmio Sérgio Milliet foi dedicada a Mirian de Carvalho pela pesquisa publicada em A Brasilidade na Pintura de César Romero. A cerimônia aconteceu no final de maio, em São Paulo.

A mulher do fundo do mar

Encontrei imensa dificuldade de acreditar no que estava acontecendo diante de meus olhos. Fosse cinema e eu cogitaria a possibilidade de uma falha ainda maior que a da média humana para reter a luz dos fotogramas em movimento. Mas não. Era teatro. Eu podia tocar, se quisesse, o cenário, a atriz, a areia, que me fez lembrar uma das tantas decorações temáticas e patéticas do restaurante Coco Bambu.

O texto de Aldri Anunciação não é só impublicável, como diriam escritores, leitores e editores: é indizível, como diriam os repentistas. Afronta a inteligência e uma tradição milenar de oralidade. Em sua pretensão de soar filosófico – seguindo as pegadas do Existencialismo, a mais "fácil" das filosofias, quando não se leu Kierkegaard direito, tampouco Sartre, mas Clarice Lispector e Augusto Cury –, o dramaturgo – que também assina a lastimável direção do espetáculo – cai em clichês os mais puídos, e fez como que uma leitura da diarreia de Bauman, sociólogo – por apedeutas considerado filósofo – queridinho dos que não conseguem ler Adorno e toda a Escola de Frankfurt e dos que desejam ler tudo aquilo que já encontramos no azul que tá no frevo.

É daí que vemos uma declinação enfadonha de críticas aos valores da pós-modernidade em uma Cuba submersa, com máquina de escrever enferrujada – tão óbvios os signos usados no espetáculo –, mesa de madeira avariada e um fundo côncavo, um paredão de uns dois metros de altura por cinco de largura sobre o qual são feitas projeções – parece não haver mais peça de teatro sem uma dramaturgia eficiente que não apele para um "cinerama" veloz e barulhento, algo que nasce justamente dessa tão criticada pós-modernidade, sociedade do espetáculo, consumismo, modernidade líquida e outras baboseiras cantadas pela turma que até hoje espera ver Cuba lançar, mesmo depois de finda a União Soviética – de imagens caóticas, absolutamente "fáceis", previsíveis, entediantes.

A mulher do fundo do mar conta a história de uma mulher que, voluntaria ou involuntariamente, afasta-se da sociedade, ou da civilização e de seu mal-estar, ou do tempo-espaço dos smartphones. Tal misantropia não parece lhe fazer bem, e daí nasce um conflito que prometia salvar a peça. Mas só prometia.

Porque o que fica, o que não salva, o bote salva-vidas furado é uma peça com um texto cheio de afirmações e sugestões do mais rasteiro e maniqueísta dos pensamentos, com metáforas gastas – a personagem se refere ao mundo lá fora (ou lá de cima) como "a terra firme das convicções" –, e uma tentativa, presunçosa, de entrar "nas mentes" com uma sabedoria de guru oriental picareta do tipo Sai Baba (em um dado momento a personagem pontifica, em tom professoral, a respeito da relação com o outro, alteridade etc., não sem jamais se livrar do senso comum – o senso comum de Paripe). Some-se a isso um figurino e uma coleção de movimentos que expõem a talentosa e experiente atriz baiana Iami Rebouças ao ridículo, nessa altura do campeonato da pré-terceira idade, e ainda uma nonada e outra que não conduz o drama a lugar algum, e o leitor poderá vislumbrar o que presenciei, por cerca de uma hora e vinte, boquiaberto, no fundo de um mar que não se impõe com o mínimo de verossimilhança que pudesse estimular o público a, por meio da técnica do suspension of disbelief, entrar no jogo proposto pelo dramaturgo e encenador baiano que se notabilizou com o espetáculo "Namíbia, não!".

Restou-me agradecer a generosidade de Aldri Anunciação para com seu público, dessa vez, ao não enfiar no texto frases em alemão, ditadas por ele, com o intuito de fazer valer os anos de estudo do idioma, e ainda com o propósito, provinciano, do épater le bourgeois.

A mulher do fundo do mar, com sua profundidade de pires, passa a figurar em minha lista dos piores espetáculos de teatro realizados na Bahia nos últimos dez anos. E fica perto do primeiro da lista. Ali, na superfície.

Henrique Wagner

Quarto Camarim

Depois do mais recente acordo ortográfico da língua portuguesa, tornado obrigatório em 2013, o hífen passou a infernizar ou, no mínimo, despertar-se diante dos falantes do idioma de Camões e Tiririca. Quando li o nome do filme dos realizadores baianos Camele Queiroz e Fabrício Ramos, senti falta do causídico tracinho, já que não via a justaposição das duas palavras que me pareceram íntimas na ocasião. Assistindo ao primeiro longa da dupla, que tem no currículo uma série de curtas e um média muito bem sucedido chamado Muros, entendi a escolha ortográfica.

Luma Kalil nasceu Roniel em Feira de Santana, segunda maior cidade do Estado da Bahia. Envolveu-se em contendas familiares - principalmente com um dos irmãos, pai da diretora -, no mais das vezes por conta de sua condição de homossexual. Sufocada pelos arcaicos, provincianos valores de uma cidade pequena do nordeste brasileiro, decidiu engrossar a estatística dos nordestinos que tentam a vida em São Paulo, cidade grande, cosmopolita e aparentemente moderna. Roniel abriu um salão de beleza e se apresentou (ainda se apresenta) na noite de São José dos Campos, onde mora até hoje com André, dublando nomes como os de Mariah Carey, Whitney Houston e Rosanah Fienngo, dentre outros. Há algum tempo não mais Roniel, mas Luma, mulher com prótese capilar loira, cintura fina e ancas largas, bunda bem calibrada e uma vaidade que não cabe em necessaire alguma do planeta. Assim como as vicissitudes de toda travesti não cabem em um livro, menos ainda em um filme.

A sorte é que Quarto Camarim não pretende contar isso ou aquilo, não dispõe de uma história linear e com recurso contístico da "unidade de efeito": o que vemos é uma espécie de work in progress em que tudo o que passa na frente da câmera pode ser aproveitado, inclusive o público, que, de forma indireta, pede à protagonista narradora que não deixe Luma encenar demais em seu documentário, encenar a si mesma, poetizando o poema.

Camele Queiroz e Fabrício Ramos receberam incentivo financeiro do projeto Rumos Itaú. A verba tinha o tamanho de um curta-metragem. Que não filmaram. E Queiroz lembrou de um tio seu, o qual não via há cerca de trinta anos. Decidiu fazer um filme sobre o tio "desaparecido". E mais: decidiu que filmaria todo o processo de filmagem, da ligação telefônica convidando a agora Luma Kalil, tia, a ser personagem de um filme, até o plot em si, que, a rigor, deliberadamente, não existe. A sensação que tem o público é de que Quarto Camarim mimetiza, ao mostrar os bastidores, a vida "dupla" de Luma, todo o processo de transformação (de gênero, de cidade, de profissão, a maquiagem para entrar em cena e subir ao palco) por que passa Roniel.

O problema é que a dupla de diretores não consegue evitar o enfado dos vinte primeiros minutos e de alguns planos desnecessariamente longos. Um dos motivos desse problema reside no desejo dos realizadores de "fazer cinema" em vez de aproveitar em toda sua grandeza um personagem riquíssimo. Os primeiros minutos do filme são árduos, lentos e sem qualquer cena relevante – aproveito, aliás, para pedir, a quem lê este texto, que insista no filme, porque vale a pena, atravessado o Rubicão. E ao longo do filme, aqui e ali, o público testemunha discretas tentativas da dupla de representar, de criar símbolos, de produzir metáforas por meio de uma encenação estrutural – resulta contraditório, portanto, o pedido de Queiroz para que sua tia não encene, não lembre que há uma câmera filmando (quase) tudo –, de fazer uma espécie de cinema de autor, ainda. Pesa numa das cenas o concerto mais famoso do compositor russo Rachmaninov, o número 2 para piano: mais uma consequência do desejo de "fazer cinema". O concerto escolhido é excessivamente dramático e conhecido demais, carrega em si milhões de outras cenas, filmadas ou não.

Se o filme começa, de fato, com a seguinte afirmação de uma outrora relutante Luma Kalil: "eu vou fazer o filme com você" (o carro da produção entra, imediatamente, num túnel, em que os carros precisam iluminar a escuridão), termina como todo espectador imaginava – só que não, diria o adolescente de Facebook. Que grande ideia a dos realizadores de pedir a Luma para fazer seu tão esperado número musical em sua própria casa, em seu próprio quarto, embaralhando de vez as cartas, sem repeti-las, levando-nos ao começo do filme, mais exatamente ao título.

Quarto Camarim é a união de dois substantivos, substantivo composto em que não há adjetivo determinando o número, tampouco alguma regra exigindo o hífen que une e separa ao mesmo tempo. O filme assinado por duas pessoas é híbrido e irregular como a vida.

Sobretudo a vida de uma travesti.