expoart
opções >> 
Nova mensagem >> 
Responder mensagem >> 
Voltar para o fórum >> 
Atenção: o fórum é um espaço para comentários e idéias. À Equipe Expoart, se reserva o direito de excluir mensagens que contenham propagandas, ainda que nas assinaturas, conteúdo ofensivo ou que não se adeque ao contexto do site.
fórum >> 
Assunto: SUBSERVIÊNCIA (ou Brasil com “z”)
Autor: VITOR BORGES
Data: 16/10/2008 12:38
É bastante comum ouvirmos falar em identidade brasileira, ou seja, o que nos caracteriza quanto cultura e nos diferencia de todos os outros povos. Os modernistas do início do século passado tentaram captar, explorar e expor o que era o Brasil; em que aquele país tardiamente abolicionista havia se transformado. Por volta da década de sessenta, em plena ditadura militar, jovens artistas, intelectuais e pensadores de diferentes áreas, passaram a expor ao brasileiro, o que hoje se encaixa melhor dentro desse conceito de brasilidade. Aprendemos com essa geração, que o que temos de mais importante, é a diversidade, essa mescla única de culturas que aqui fincaram bandeiras e plantaram sementes. Os tropicalistas foram essenciais, e a meu ver, são o símbolo desse período em que parte dos brasileiros começa a perceber a macumba e a deixar de lado a ópera; onde o brasileiro abraça a rabeca e esquece o violino; se encanta com os sons das florestas tropicais e deixam ainda mais frios os recantos do norte, sem deixar de mesclar o que vem de fora com o que já temos, criando algo que não é nenhuma coisa nem outra, mas o novo.
Durante muito tempo, vivemos à margem do que nos impunham os europeus, supervalorizamos o outro em detrimento do nosso. Para o baiano Glauber Rocha, “os brasilianistas estão superados”. Ele utiliza o termo “brasilianista” para se referir àqueles brasileiros que falavam mal do próprio país, encantados e embevecidos com a arte e cultura estrangeira. Para alguns críticos contemporâneos, ainda fazemos uma arte inferior à arte européia, ou norte americana, atribuindo a esse fenômeno, a grande diferença econômica que há entre essas regiões, pois para eles, a economia, ou o dinheiro, influencia diretamente no grau de contemporaneidade de uma artista. Como se o dinheiro fosse capaz de comprar criatividade e capacidade inventiva; como se o dinheiro fosse capaz de comprar a liberdade artística e os sonhos; como se ele fosse capaz de substituir as experiências vividas. Será que um paulistano, ou baiano, fazem realmente uma arte contemporânea defasada em relação à arte de um parisiense, ou londrino?
Um dia, certamente, fizemos uma arte atrasada, nem melhor nem pior, apenas tardia. Enquanto a Europa vivia suas experiências modernas, nós ainda estávamos apegados a antigos cânones vindos dessa mesma Europa, onde predominava a arte acadêmica e a quase ausência de liberdade. Isso se deve, entre outros fatores, à precariedade dos meios de comunicação que ainda davam seus primeiros passos em direção à globalização, e que não eram suficientemente eficientes para interligar o mundo de forma prática e rápida como vemos hoje. As informações simplesmente se arrastavam até chegar aos países menos desenvolvidos. Alguns poucos artistas tiveram a oportunidade de viajar e conhecer de perto as novas estéticas européias, o que acelerou o processo de mudanças que ocorreu em nossa arte durante as duas primeiras décadas do século XX. Não fomos capazes de criar uma arte puramente brasileira durante esse período, justamente por conta da supervalorização da arte européia, que progrediu, mas essa evolução demorava a chegar aos nossos olhos e ouvidos, e quando chegava nos cegava para o que estava ao nosso lado, bem diante dos nossos olhos. Com os modernistas, apenas trocamos uma influência por outra; fomos incapazes de criar a nossa modernidade sem antes ter contato com a modernidade alheia. Nos apropriamos das formas distorcidas e das novas pinceladas e conceitos dos movimentos que surgiam na Europa, descobrimos a liberdade, e o que nos diferenciava deles, eram os temas utilizados. Esses sim, tipicamente brasileiros, arrancados do nosso povo, do nosso folclore e da nossa diversificada e complexa formação cultural.
Hoje, em pleno século XXI, devido aos avanços tecnológicos, os meios de comunicação se desenvolveram e estão cada vez mais acessíveis à população. Será possível, ainda hoje, estarmos criando uma arte defasada em relação aos europeus? Mesmo com a globalização e a informação instantânea, será que ainda assim podemos ser considerados defasados? Hoje o artista do interior brasileiro sabe muito bem o que está acontecendo no mundo, pois basta uma meia dúzia de cliques para penetrar em museus e galerias de todos os continentes. O contato imediato com o que está acontecendo na arte fora do nosso país nos permite uma maior consciência, além da possibilidade que a internet nos oferece de ter contato com a literatura, o cinema, a dança, espetáculos teatrais, enfim, tudo aquilo que também faz parte da formação de um artista e que podemos ver sem sair de casa.
Espero que Glauber Rocha esteja certo, e que esses “brasilianistas” se sintam realmente superados pela história, que pode muito bem ser contada através de outra perspectiva. Se associarmos o fazer e a qualidade artística contemporânea à economia, ou ao dinheiro, nós, artistas de países considerados periféricos, estamos assinando nosso atestado de óbito, e muito provavelmente, fadados ao fracasso. No mais, termino citando um velho ditado popular, que diz: “pra o bom entendedor, meia palavra basta”.

responder

atenção >> 

Este Forum foi criado com objetivo da troca de informações entre os usuários e visitantes do site Expoart. Qualquer problema, dúvida ou conduta não apropriada de algum integrante, envie um e-mail para adm@expoart ou preencha o nosso formulário de contato. As mensagens aqui postadas são de autoria e responsabilidade de seus autores. Não nos responsabilizamos por elas ou seu conteúdo.

Equipe Expoart

©2001 Expoart Serviços Ltda. Todos os direitos reservados.